Somos felizes no Facebook?
Uma sondagem encomendada pelo Expresso chegou a algumas conclusões interessantes sobre a relação dos portugueses com o Facebook, mais concretamente sobre como a rede social afeta a felicidade dos utilizadores. Até que ponto é importante receber “Gostos” para nos sentirmos bem? Será que criamos uma máscara de felicidade no nosso mural? Sentimo-nos bem em “cuscar” a vida de outras pessoas?
Neste post, debruçamo-nos sobre alguns dos resultados a que o estudo do Expresso chegou. O Facebook celebra o seu 11.º aniversário em 2014 e alberga, atualmente, quase 12 milhões de utilizadores apenas em Portugal. No total, conta com mais de 1230 milhões de utilizadores, espalhados por todo o mundo, um número que só prova que a rede social está a moldar o mundo moderno. A questão é: até que ponto molda também o nosso estado de espírito?
Mas somos felizes no Facebook?
Comecemos pela pergunta simples: Sente-se melhor e mais feliz depois de passar algum tempo a navegar pelo Facebook? Dos 1211 portugueses que responderam à sondagem, uma fatia de 49% admitiu que sim, que se sente mais feliz após passar algum tempo no Facebook. As distrações podem ser muitas: ver publicações de amigos e conhecidos, conversar no chat, participar em jogos, fazer as nossas próprias publicações, etc. Por outro lado, 48,2 % respondeu o contrário.
Ainda assim, quando é perguntado se navegar no Facebook deixa a pessoa pior e mais infeliz, as respostas mudam drasticamente. Uma fatia maioritária de 81,8% diz que não se sente deprimido por navegar no Facebook. A este resultado alguns especialistas em sociologia e psiquiatria respondem que as redes sociais não exercem um efeito negativo na autoestima dos utilizadores, nem as deixam menos felizes. O que acontece pode ser exatamente o oposto: as pessoas sentirem-se realmente felizes e satisfeitas.
Embora nem todos os utilizadores usem o Facebook com o mesmo fim, à partida ninguém terá na sua lista de amigos pessoas de quem não gosta. Têm, sim, amigos e pessoas com quem gostam de falar. Uma fatia de 90% dos portugueses inquiridos usa o Facebook para falar com os amigos no chat e contactar desaparecidos., etc. Nesta lógica, o Facebook funciona como a pequena comunidade virtual que é e onde as pessoas se sentem bem. Ainda assim, caso haja alguém na nossa lista de amigos que nos desagrade a solução é simples: fechar a conversa e, possivelmente, remover a pessoa da rede.
Isto leva a outra componente muito relacionada com o Facebook. Será que criamos uma máscara de felicidade? Vivemos numa época de “Diz-me o que publicas e dir-te-ei quem és”? Especialistas em sociologia acreditam que, como utilizadores no Facebook, fazemos publicações com o intuito de ser bem vistos e aceites pela comunidade em que nos inserimos. A maioria das publicações são por isso positivas, para que possamos interagir com outras pessoas e receber “Gostos”. Esta tendência está, no entanto, a conduzir uma ilusão.
É por isso mesmo que, curiosamente, 46,7% dos inquiridos considera que as pessoas nas redes sociais se mostram mais felizes, atraentes e bem-sucedidas do que realmente são na realidade. Este número é corroborado pelos 37,7% dos inquiridos que considera que esta ilusão acontece apenas “algumas vezes”.
Existem ainda sociólogos que consideram que o Facebook funciona mais como um potenciador de sentimentos. Por exemplo, quando uma equipa de futebol vence o campeonato o estado de felicidade dos utilizadores pode ser expressado facilmente através de várias publicações. Aqui, um sentimento que já é de felicidade vai estar simplesmente a tornar-se mais forte. A felicidade não surge, propriamente, na rede social.
Para 61,3 % dos inquiridos receber “Gosto” nos seus posts pouco contribui para a sua felicidade e autoestima, mas uma fatia de 29% confessa que receber feedback de outros utilizadores contribui “alguma coisa” para a sua felicidade. Só 3,3 % responde que a sua felicidade depende “muito” dos “Gostos” que obtém em publicações.
Um estudo da Universidade de Humboldt, de Berlim, chegou ainda a uma conclusão interessante mas profundamente antagónica: por muito que o Facebook consiga provocar uma sensação de felicidade, também são potenciados sentimentos de inveja.
O estudo alemão contou com a participação de 600 pessoas das quais 30% começou por admitir que a inveja é uma grande fonte de infelicidade pessoal. A mesma investigação concluiu que 36% dos utilizadores sente inveja “às vezes” e “frequentemente” após passar algum tempo a navegar pelo Facebook. Uma investigadora que fez parte deste estudo publicou, mais tarde, que estas “máscaras de felicidade” criadas no Facebook conduzem a uma comparação social, o que pode facilmente provocar inveja.
Atualmente, com a web 2.0 a provar o seu valor, têm surgido uma variedade de redes sociais e serviços web. Agora, além do Facebook, existem redes sociais voltadas apenas para a felicidade. A missão que assumem é simples: fazer as pessoas felizes.
Para quem nunca ouviu falar da Soccial, trata-se de uma rede social criada por portugueses que, através de uma tecnologia criada para proporcionar felicidade, conjuga os gostos, momento da vida, localização geográfica e personalidade de cada utilizador para gerar portais sociais únicos e personalizados. A ideia é formar uma rede social útil e positiva, para que as pessoas se foquem nas coisas boas da vida e se concentrem nos seus sonhos.
A Happier é uma rede social norte-americana, nos moldes da Soccial, vocacionada para a publicação de conteúdos alegres que provoquem momentos de felicidade. Os utilizadores podem partilhar fotografias e estados sobre aquilo que os deixa feliz e pode trazer felicidade a outros.
A sondagem realizada pelo GFK Metris – a pedido do Expresso – teve em conta um universo constituído por indivíduos de idade igual ou superior a 18 anos, residentes em Portugal Continental. A amosta é formada por 1211 indivíduos e é proporcional por região. A informação foi recolhida através de entrevista direta em casa dos inquiridos e os trabalhos de campo decorreram entre 13 e 24 de setembro de 2013.