Os aparelhos digitais estão a enfraquecer a nossa memória
As pessoas utilizam cada vez mais os computadores e dispositivos móveis, sem terem a consciência de que esta utilização massiva de aparelhos eletrónicos enfraquece as suas memórias. Esta foi a conclusão que chegou um estudo da empresa de segurança online Kaspersky Lab. Entre as razões apontadas para este “enfraquecimento da memória” é destacado que as pessoas, em vez de guardarem informações como números de telefone no cérebro, recorrem à tecnologia para guardar estes dados, passando a exercitar menos a sua capacidade de memorização.
O estudo chegou à conclusão de que muitos adultos ainda têm na memória dados como os números de telefone que usavam quando eram mais novos. Porém, ao perguntarem pelo número de telefone do atual local de trabalho de familiares próximos, são incapazes de responder. Assim, é seguro dizer que a tendência de guardar informações em suporte digital “impede a formação de memórias de longo prazo”, como disse a professora Maria Wimber, da Universidade de Birmingham.
Memória: o que guardamos no nosso cérebro digital
Para esta investigação foram analisados os hábitos de memória de 6 mil adultos em 8 países diferentes: Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. As conclusões, que explicaremos com maior detalhe à frente, apontam que mais de um terço das pessoas apela primeiro a aparelhos eletrónicos para recordar informações. Entretanto, foi no Reino Unido que mais se demonstrou este “enfraquecimento da memória”, com mais de 50% dos entrevistados a recorrer a pesquisas digitais para fornecer uma resposta.
A longo prazo esta dependência de uma máquina pode ter um impacto no desenvolvimento de memórias. Esta conclusão retirada é explicada de forma muito simples: as informações obtidas através destes aparelhos são constantemente relembradas e esquecidas segundos depois de as usarmos. “O nosso cérebro parece reforçar uma memória sempre que a acedemos e, ao mesmo tempo, esquece lembranças irrelevantes que estão a distrair-nos”, explica Maria Wimber.
A investigadora diz que o processo de recordar a informação é “uma maneira muito eficiente de criar uma memória permanente”. “Em contrapartida, repetir passivamente informações, como se faz ao pesquisar por um tema várias vezes na internet, não cria uma memória sólida nem duradoura”, acrescenta.
Entre os voluntários analisados no Reino Unido, cerca de 45% conseguiu lembrar-se do número de telefone da casa onde viviam quando tinham 10 anos enquanto apenas uma fatia de 29% foi capaz de dizer o número de telefone dos seus próprios filhos. Entretanto, apenas 43% foi capaz de dizer o número de telefone do seu local de trabalho. Recordar o número de telefone de um companheiro foi ainda mais problemático no Reino Unido: 51% das pessoas não conseguiram dizer o número de telefone do seu parceiro.
A conclusão final a que chega o estudo é a de que as pessoas habituaram-se, realmente, a utilizar aparelhos eletrónicos como uma “extensão” do seu próprio cérebro. Uma vez que as pessoas estão prontas para esquecer informações importantes, certas de que as podem recuperar facilmente acedendo a um dispositivo digital, acontece uma espécie de “amnésia digital”.
No estudo foi ainda verificada uma tendência para se manter memórias pessoais em formato digital, lado a lado com o armazenamento cerebral de informações factuais: é o caso das fotografias de momentos importantes. Se o dispositivo avariar ou desaparecer, essas mesmas memórias cessam também de existir.
“Parece haver também um risco de que a gravação constante de informações em dispositivos digitais nos torne menos propensos a fixar eficientemente essas informações visuais na nossa memória de longo prazo, e pode até distrair-nos na codificação correta de um evento no momento em que ele acontece”, conclui a Dra. Maria Wimber.