Harper Reed, o hacker por detrás da campanha de Obama
Já ouviu falar de Harper Reed, o guru tecnológico que, com apenas 35 anos, foi contratado pela Casa Branca para usar o seu arsenal de truques e ganhar as eleições nas Presidenciais 2012?
Neste post vamos falar do homem que começou por revolucionar um negócio de t-shirts e acabou por se contratado como diretor de tecnologia durante a campanha de reeleição de Barack Obama, modificando para sempre as campanhas políticas na nova economia social.
No dia 6 de Novembro de 2012, pouco depois das 21 horas, era anunciado o triunfo do líder norte-americano: Barack Obama voltava a ser reeleito e o Partido Democrata festejava. No entanto, na sede de campanha, o staff já sabia há muito tempo que a vitória chegaria e estavam, por isso, satisfeitos e muito tranquilos.
Esta calma presidencial não era de todo infundada: tinha bases científicas. Um núcleo de trabalho com 40 indivíduos, oriundos de Silicon Valley, na Califórnia, tinha trabalhado afincadamente durante 18 meses para garantir aquele resultado.
Os techies tinham feito uma pausa nas suas carreiras, deixado a capital tecnológica dos Estados Unidos e agora que a eleição de Obama estava finalmente ganha podiam regressar às origens: a sede do Google, da IBM, do Facebook e do Twitter.
Esta equipa peculiar era liderada por Harper Reed. Durante aquele ano e meio, Reed trabalhou como CTO – sigla para diretor de tecnologia – da campanha de reeleição de Barack Obama.
O engenheiro informático, de apenas 35 anos, arquitetou um programa de computador que agregou numa base de dados informações sobre mais de 200 milhões de cidadãos norte-americanos e recrutou cerca de um milhão de voluntários, ajudando a recolher um valor recorde de doações: mil milhões de dólares, ou seja, 742 dólares.
De cabelo ruivo e esgrouviado, barba farta e bigode com pontas reviradas, Harper Reed era sem dúvida um corpo estranho na campanha de Obama, entre todos os assessores engravatados, de fato e camisinha.
Mas a verdade é que era ele o verdadeiro guru da tecnologia. Por isso mesmo foi ele o primeiro nome que Jim Messina, diretor da campanha de Obama, recebeu ao reunir com os líderes do Google e do Facebook à procura do melhor entre os melhores.
Mas quem é o Harper Reed que liderou a campanha de Obama?
A relação de Harper Reed com a tecnologia começou cedo. Aos sete anos, construiu o primeiro programa de computador, “Um Jogo Simples”, seguindo as instruções de uma revista da especialidade. Meses antes, aprendera com uma tia as primeiras noções de informática que aperfeiçoou… ao danificar propositadamente computadores para ter uma desculpa para os desmontar e reparar.
No liceu já era procurado pelo seu talento como informático. Com os pequenos biscates que fez a vizinhos e amigos conseguiu juntar 1200 dólares, o suficiente para investir no seu primeiro Apple, um 2C, um grande tijolo dos anos 80 que é hoje um primo afastado do leve e estiloso MacBook.
Os anos de faculdade foram passados em Iowa e os primeiros estágios levaram-no para Chicago, onde o hacker começou a trabalhar para uma empresa de T-shirts e a tornar-se conhecido pelas suas técnicas revolucionárias.
A Threadless (empresa que começou em 2000 com um investimento de mil dólares) fez mais de 30 milhões de dólares em vendas em apenas quatro anos, devido ao novo conceito de comércio eletrónico introduzido por Reed. A ideia era desfazer a fonteira entre consumidor e produtor, tarefa que o techie conseguiu com toda a mestria.
O sistema da Threadless era (e ainda é) muito simples: o design das t-shirts é escolhido pela comunidade online que visita o site da empresa semanalmente. Todas as semanas os cibernautas submetem mais de mil propostas de desenhos que são avaliados pela comunidade e votados.
Os dez mais votados são impressos nos produtos da marca que entretanto já elabora outras peças de vestuário, vendidas no site e na loja em Chicago. A ideia é que os clientes gerem as ideias e não os empregados ou fornecedores.
Foi com estas noções bem assentes na cabeça que Harper Reed chegou à sede de campanha de Obama. Inicialmente, houve um choque de culturas entre a geração punk de techies e o grupo de políticos de fato e gravata.
Apesar das tentativas para promover sempre o espírito de equipa, nem sempre foi fácil convencer alguns dos políticos a confiar na mudança que os techies tentavam implementar e que acabaram por garantir a reeleição de Obama.
Alguma vez ouvir falar do Narwhal?
Mas retomemos agora ao papel de Reed na maior campanha política de 2012. A verdade é que Obama queria engenheiros a fazer engenharia e não políticos. Só uma campanha diferente conseguiria o resultado que se verificou na noite de 6 de novembro de 2012. E foi assim que nasceu o Narwhal (traduzido para português como narval, o nome de um mamífero).
O programa coligia, gradualmente, milhões de comportamentos e preferências, sem abusar da privacidade dos cidadãos: cruzava dados como morada, número de telefone e agregado familiar, com informações públicas publicadas nos perfis do Facebook.
Sempre que existisse uma doação, a campanha ia até àquela rede social recolher dados sobre o benemérito e tinha acesso aos nomes dos amigos, ficando a saber como reagiriam às mensagens e e-mails sobre determinados assuntos.
Um “gosto” numa comunicação sobre planeamento familiar identificá-los-ia como potenciais democratas e alvos da equipa de voluntários que, de porta em porta, iriam convencê-los a votar em Obama no dia 6 de novembro. Caso não conseguissem, a base de dados continuava a recolher a informação sobre essas pessoas, que seriam contactadas novamente.
Ao longo dos dezoito meses de campanha, Harper Reed ensaiou com frequência uma série de situações de emergência para garantir que nada falhava no dia das eleições. Era por isso mesmo que estavam tão calmos na sede de campanha e tão certos de que a vitória era certa. Já na sede do partido Republicano, as coisas não corriam tão bem. O programa Orca, semelhante ao Narwhal e batizado com o nome do maior predador do narval, entrou em colapso no dia em que os americanos foram votar.
Ainda no dia 6 de novembro, Harper Reed acionou uma segunda aplicação, a Gordon. O que fazia? Permitia monitorizar quem, da base de informações que tinham, tido ido às mesas de voto. Quem ainda não tinha aparecido para cumprir o dever cívico foi notificado, durante a última hora, para a importância do sufrágio.
O Narwhal foi de tal forma um sucesso que Harper tem a certeza de que lançou a base para as campanhas políticas do futuro, embora admita que a tecnologia está em constante evolução e que nas Presidenciais 2016 é muito provável que o método necessite de uma série de adaptações.
Hoje, o guru tecnológico de Obama regressou a casa, em Chicago, e montou a startup Lunar Technology Corp, desta vez por conta própria, para melhorar a qualidade do comércio eletrónico. Quanto ao futuro, diz que logo se vê. A prioridade agora está em Chicago.
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