Celebrate Pride: será o filtro arco-íris uma manobra do Facebook?
O dia 27 de junho de 2015 marcou um ponto de viragem na história mundial: nos Estados Unidos da América, o Supremo Tribunal reconhece o casamento homossexual como um direito inalienável e declarou-o legal nos 14 estados, onde o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo ainda era proibido.
As redes sociais levantaram-se em aplausos e, no Facebook, foram muitos os utilizadores que resolveram mudar as cores da foto de perfil com um filtro arco-íris. Isto graças a um aplicativo chamado Celebrate Pride, criado pela própria plataforma e promovido pelo seu criador, Mark Zuckerberg.
A adesão foi massiva e o fenómeno tornou-se tão viral quanto possível: a prova disso são os feeds que se encheram de fotografias coloridas e de estados de apoio à comunidade LGBT.
Do lado oposto, houve também vozes que se levantaram contra a adesão ao Celebrate Pride: não falamos somente de opositores ao casamento gay, mas também de pessoas que consideraram o fenómeno como exagerado ou disseram que havia mais gente a ir em modas do que propriamente a apoiar a causa.
Até aqui, nada de novo. O que nem todos sabem é que de acordo com alguns especialistas, esta poderá ter sido outra manobra do Facebook para recolher mais informação sobre os seus utilizadores.
Para dizer a verdade, a experiência não seria inovadora, uma vez que já anteriormente a maior rede social do mundo tinha analisado o humor dos usuários para tentar perceber as suas inclinações politicas. Uma experiência semelhante mas relativa ao apoio à comunidade homossexual foi também levada a cabo em 2013.
Celebrate Pride: o culminar (ou a continuação) de experiências anteriores?
Antes de tentarmos perceber se desta vez também se tratou de uma experiência ou não, analisemos o fenómeno à luz de casos anteriores. Para isso, voltemos ao ano de 2009, altura em que o Twitter deixou que os seus utilizadores mudassem a foto de perfil para verde e alterassem a sua localização geográfica para a capital iraniana, Teerão.
A iniciativa era uma forma de apoio aos manifestantes iranianos, mas não foi bem recebida por muitos utilizadores, que a consideraram como um desrespeito vindo dos ocidentais. “Ativismo de sofá“, chamaram-lhe na altura.
A adesão a estes fenómenos não passou ao lado de empresas e jornais online que se decidiram juntar à causa e usar o Celebrate Pride para criar também elas uma imagem de perfil em tons arco-íris. Como resultado, vários utilizadores decidiram retirar o “like” da página. Em alguns casos, a perda foi bastante significativa.
Mas, sabendo desta possibilidade, o que levou as empresas e pessoas a arriscarem-se a perder gostos? A resposta possível está num estudo já muito antigo e que pode ser traduzido para o mundo da Internet. O seu autor é Doug McAdam, um sociólogo que se propôs a analisar o “Verão da Liberdade”.
Durante esta iniciativa, 700 jovens universitários foram inseridos dentro de famílias negras do Mississippi para registar o número de eleitores dessa cor. Um dos resultados observados foi o seguinte: quantas mais pessoas se inscreviam , mais amigos dessa pessoa eram atraídos para fazer o mesmo.
Traduzindo para o universo da rede social, isto significa que compensa mais aderir à causa para angariar novas pessoas, do que se manter imparcial (mesmo assegurando os gostos de quem já nos conhece).
Uma questão que deve estar agora a colocar é a seguinte: porquê referir este estudo e não outro qualquer? Ora, porque ele foi referido numa investigação realizada em março de 2013, e publicada pelo próprio Facebook.
Nela também se analisa o apoio ao casamento gay e procura-se entender de que forma um utilizador influencia o outro. Entre as várias perguntas colocadas, uma das mais importantes era: quantas pessoas têm de mudar a foto de perfil , para que decidamos mudar também?
Obviamente que cada caso é um caso, mas, em geral, a resposta parece ser simples: quantas mais pessoas mudarem, maior são as probabilidades de a outra aderir. A média global fixa-se nas seis pessoas. Entre os outros fatores destacam-se o grau de amizade, a afiliação política ou a religião de quem adere e influencia.
Celebrate Pride: afinal foi uma experiência ou não?
Se os casos anteriores levam a crer que o Celebrate Pride é mais uma experiência, representantes da rede social garantem que não. Segundo o próprio Facebook, o aplicativo foi desenvolvido por dois estagiários durante um hackathon e não visou qualquer tipo de análise aos utilizadores.
Uma hackathon (ou maratona de hacking) é um evento onde os intervenientes colaboram para conseguir obter um determinado resultado num curto espaço de tempo. O termo designava inicialmente um evento específico, mas passou a ser usado para qualquer iniciativa onde se conjugam esforços para inovar. Normalmente, participam nesta maratona profissionais de várias áreas: de designers gráficos a programadores.
Experiência ou não, a verdade é que o Celebrate Pride conseguiu ficar pronto até ao dia do anúncio pelo Supremo Tribunal Norte-Americano. A justificação para que não se trate de uma experiência está no facto de o algoritmo da timeline das pessoas não ter sido alterado para recolher dados. Em experiências anteriores – como aquela em que se avaliava o humor dos utilizadores – foram operadas alterações no que diz respeito aquilo que aparecia no feed.
Mesmo que as mudanças não sejam usadas para um qualquer estudo, especialistas dizem que o simples like numa foto de pefil pode servir como um indicador. Lembremos que, à semelhança do Google, também o Facebook regista toda a atividade do seu utilizador para assim determinar aquilo que para ele é mais relevante. Basta, por exemplo, selecionar as “histórias principais” do Feed de Notícias para perceber que há muita informação que não é mostrada.