Acordo entre EUA e Cuba: o que vai mudar na Internet?
O dia 17 de dezembro de 2014 foi histórico para o continente americano. Após relações cortadas durante mais de 50 anos, os Estados Unidos da América e o regime de Cuba chegaram finalmente a um acordo diplomático que põe de lado os conflitos iniciados durante a Guerra Fria. Após um telefonema de 45 minutos, entre Barack Obama e o presidente cubano Raúl Castro, reiniciou-se a ligação entre as duas nações.
Mas que mudanças traz este acordo? Pelo lado dos Estados Unidos, será reaberta a embaixada em Havana, Cuba será excluída da lista de terroristas e as restrições a viagens e relações comerciais serão aliviadas. Cuba, por outro lado, comprometeu-se a libertar 53 prisioneiros identificados como presos políticos pelos Estados Unidos.
“Estes cinquenta anos demonstraram que o isolamento não funciona”, disse o presidente Barack Obama no comunicado transmitido em direto. “É tempo de uma nova abordagem”. Esta nova abordagem implica, entre outros assuntos, uma mudança do uso da Internet por parte de Cuba. Neste post, tentamos perceber como este anúncio diplomático pode impactar a Internet nos próximos anos.
No seu discurso, Obama citou que o isolamento diplomático privou Cuba de uma das tecnologias mais importantes do último século: a Internet. Enquanto o acesso à rede continua a expandir-se a todo o mundo, na ilha de Cuba apenas 5% da população está online. Relembramos ainda que Tim Berners-Lee – considerado o pai da Internet – defendeu, recentemente, que o acesso à web deve ser considerado um direito humano. Nesta linha de pensamento, há então muitas barreiras para derrubar no mundo digital cubano.
Acreditando que é necessário mudar estes 5%, o presidente norte-americano autorizou a exportação de equipamentos de comunicação. A ideia é melhorar – se não mesmo instalar – infra-estruturas de telecomunicação em Cuba. Em 2009, o acordo já então celebrado entre as duas nações era mais restritivo, não incluindo sequer exportações deste género.
Internet em Cuba: o acesso está unicamente dependente das infra-estruturas?
Apesar das relações estarem agora mais próximas, o futuro da Internet em Cuba depende sobretudo de políticas domésticas. Como relembra o presidente Obama, Cuba continua a ser um regime comunista, totalmente oposto aos princípios democráticos e humanos defendidos pelos EUA. Num país onde ainda não existe liberdade de expressão, o acesso à Internet será certamente condicionado.
Hoje, por exemplo, os cidadãos cubanos só podem aceder à Internet a partir de locais públicos. Existe ainda um grande entrave: o uso do serviço é caro. Em 2013, o governo facilitou o acesso à Internet em 118 pontos, além dos hotéis e instituições do Estado. Mesmo assim, de acordo com um estudo da TeleGeography, no ano passado foram registados apenas 6.200 assinantes de banda larga em Cuba entre os seus mais de 11 milhões de habitantes.
A ligação de Cuba à Internet depende de um cabo submarino internacional que está ligado à ilha a partir da Venezuela. Isto traduz-se numa largura de banda no valor de 1.275Gbps, ou seja, uma ligação ridiculamente restrita para uma nação inteira que se quer ligar a todo o mundo. A ilha depende também de ligações lentas e caras por satélite.
Seja qual for a decisão do Presidente Raúl Castro – irmão de Fidel Castro, o presidente cubano que abdicou da presidência em 2008, após 49 anos no poder – Cuba tem de se adaptar à nova situação. Os fornecedores de serviços estrangeiros só farão investimentos se encontrarem em Cuba um mercado atraente.
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